Transformada de Legendre

A transformada de Legendre consiste em uma transformação matemática que, quando aplicada sobre uma função Y = Y ( X 0 , X 1 , X 2 , . . . X n ) {\displaystyle Y=Y_{(X_{0},X_{1},X_{2},...X_{n})}} sabidamente diferenciável em relação às suas variáveis independentes x i {\displaystyle x_{i}} , fornece como resultado uma nova equação na qual as derivadas parciais P i = Y ( X 0 , X 1 , . . . X n ) x i {\displaystyle P_{i}={\frac {\partial Y_{(X_{0},X_{1},...X_{n})}}{\partial x_{i}}}} associadas, e não as variáveis x i {\displaystyle x_{i}} em si, figuram como variáveis independentes. A nova equação consiste na "mesma" equação inicial, mas agora "em uma forma reescrita", Ψ = Ψ ( P 0 , P 1 , P 2 , . . . P n ) {\displaystyle \Psi =\Psi _{(P_{0},P_{1},P_{2},...P_{n})}} . A Transformada de Legendre realiza-se sempre de forma que nunca se perca qualquer informação presente na equação original, devendo as mesmas informações estarem sempre contidas na nova equação.[1]

A Transformada de Legendre e a Termodinâmica

A Transformada de Legendre encontra enorme aplicação em uma área da Física conhecida por Termodinâmica, área que tem por objetivo o estudo dos sistemas constituídos por "infinitos" entes físicos, moléculas em uma amostra confinada de gás, a exemplo.

Equação fundamental e Equação de estado

Em termodinâmica, cada sistema em estudo é descrito por uma equação matemática conhecida por equação fundamental, uma equação que retém em si todas as informações físicas associadas a este sistema. O conceito de equação fundamental reside no fato de, uma vez estabelecida a fronteira do sistema - o seu volume -, o número de entes que o compõem - o seu conteúdo material -, e a energia interna do sistema - o seu conteúdo em energia -, as condições deste sistema no equilíbrio termodinâmico encontram-se por estas grandezas (e algumas outras em sistemas mais complexos, como os magnéticos) então completamente determinadas, sendo obviamente calculáveis a partir destas.

As informações físicas, quando necessárias, podem ser extraídas da equação fundamental empregando-se um formalismo matemático inerente ao estudo da termodinâmica. A exemplo, para sistemas simples, no formalismo da entropia, a equação fundamental para a entropia S em um gás ideal será dependente das grandezas volume (V), número de partículas (e não de moles) N, e da Energia Interna U: S = S ( U , V , N ) {\displaystyle S=S_{(U,V,N)}} . No formalismo da energia, isolando-se a energia interna U em S ( U , V , N ) {\displaystyle S_{(U,V,N)}} tem-se facilmente U ( S , V , N ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}} , também uma equação fundamental. Qualquer informação física, incluindo-se as equações de estado, a exemplo a equação de Clapeyron P V = N R T {\displaystyle PV=NRT} e a equação da energia U = n 2 K b T {\displaystyle U={\frac {n}{2}}K_{b}T} (n= 3; 5; ... ) para o caso dos gases ideais, pode ser facilmente extraídas da equação fundamental.

Repare que as duas equações anteriores, a de Clapeyron P ( V , T , N ) {\displaystyle P_{(V,T,N)}} e a da energia U = U ( T ) {\displaystyle U=U_{(T)}} , em função das grandezas tomadas como independentes, são equações de estado e não equações fundamentais do sistema, e portanto não retém em si, quando isoladas, todas as informações necessárias à determinação de todas as propriedades físicas do sistema. Caso conheçam-se as equações de estado de um sistema pode-se obter uma, e em consequência - mediante transformadas de Legendre - todas as equações fundamentais do sistema, mas para isto é necessário que conheçam-se de antemão todas as equações de estado do sistema, sem ausência de nenhuma delas. A título de curiosidade a equação fundamental para um sistema composto por N partículas de um gás ideal confinados em um volume V e com energia interna U é, na representação entrópica, com k B {\displaystyle k_{B}} representando a constante de Boltzman e c uma constante, e a menos de constante(s) acompanhando a grandeza N com unidade(s) definida(s) de forma a tornar correta a análise dimensional, não explicitamente indicadas aqui:[2]

S ( U , V , N ) = 3 2 N k B ln ( U N ) + N k B ln ( V N ) + N k B c {\displaystyle S_{(U,V,N)}={\frac {3}{2}}Nk_{B}\ln \left({\frac {U}{N}}\right)+Nk_{B}\ln \left({\frac {V}{N}}\right)+Nk_{B}c} [3]

Isolando-se U, tem-se, na representação da energia:

U ( S , V , N ) = N ( N V ) 2 3 e 2 3 ( S N k B c ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}=N\left({\frac {N}{V}}\right)^{\frac {2}{3}}e^{{\frac {2}{3}}\left({\frac {S}{Nk_{B}}}-c\right)}}

Verifica-se experimentalmente, entretanto, que as grandezas intensivas como a pressão P {\displaystyle P} , temperatura T {\displaystyle T} , e potencial químico μ {\displaystyle \mu } ( onde P = U ( S , V , N ) V {\displaystyle P=-{\frac {\partial U_{(S,V,N)}}{\partial V}}} , μ = U ( S , V , N ) N {\displaystyle \mu ={\frac {\partial U_{(S,V,N)}}{\partial N}}} e T = U ( S , V , N ) S {\displaystyle T={\frac {\partial U_{(S,V,N)}}{\partial S}}} no formalismo termodinâmico da energia) são muito mais acessíveis por medidas experimentais do que as grandezas extensivas como o volume V, entropia S e número de partículas N. Seria portanto extremamente conveniente, em acordo com a situação, principalmente em situações onde uma ou mais destas permaneçam constantes, que a equação fundamental pudesse ser reescrita, sem perda de informação, em função destas grandezas intensivas.

Representações no Formalismo da Energia

A Transformada de Legendre cumpre exatamente o papel na termodinâmica de permitir que se escreva a equação fundamental de um sistema em função das grandezas intensivas (e/ou extensivas) associadas, e não apenas em função das correspondentes extensivas. Em acordo com a grandeza extensiva "transformada" para a intensiva a ela conjugada, dentro do formalismo da energia, a exemplo, surgem várias representações possíveis para a equação fundamental, a saber:

  • A energia interna U, onde U = U ( S , V , N ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N)}}  : a representação padrão no formalismo da energia.
  • A energia livre de Helmholtz F, onde F = F ( T , V , N ) {\displaystyle F=F_{(T,V,N)}} : decorre da substituição da grandeza extensiva S em U = U ( S , V , N ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N)}} pela correspondente grandeza conjugada, T, mediante F= U-TS , sendo F = F ( T , V , N ) {\displaystyle F=F_{(T,V,N)}} "mais adequada" para o estudo das transformações isotérmicas.
  • A entalpia H, onde H = H ( S , P , N ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N)}} : decorre da substituição da grandeza extensiva V em U = U ( S , V , N ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N)}} pela correspondente intensiva, P, mediante H= U+PV , sendo H = H ( S , P , N ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N)}} "mais adequada" para o estudo das transformações isobáricas.
  • A energia livre de Gibbs G, onde G = G ( T , P , N ) {\displaystyle G=G_{(T,P,N)}} : decorre das substituições da grandeza extensiva S pela correspondente intensiva, T, e da grandeza extensiva V pela correspondente grandeza conjugada P em U = U ( S , V , N ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N)}} , mediante G= U-TS+PV , sendo G = G ( T , P , N ) {\displaystyle G=G_{(T,P,N)}} "mais adequada" para o estudo de processos que ocorrem à temperatura e pressão constantes.
  • O grande potencial canônico, C = C ( T , V , μ 1 , μ 2 . . . ) {\displaystyle C=C_{(T,V,\mu _{1},\mu _{2}...)}} , decorre das substituições da grandeza extensiva S pela correspondente intensiva, T, e das grandezas extensivas N i {\displaystyle N_{i}} pelas correspondentes intensivas μ i {\displaystyle \mu _{i}} em U = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} , mediante C = U T S Σ μ i N i {\displaystyle C=U-TS-\Sigma \mu _{i}N_{i}} , sendo C = C ( T , V , . . . , μ i ) {\displaystyle C=C_{(T,V,...,\mu _{i})}} "mais adequada" para o estudo de processos onde ocorrem várias substâncias misturadas (N_1, N_2,...) e, mesmo em caso de substância única, trocas de partículas à temperatura constante.

Em função da entropia S ser sempre uma função monótona crescente da energia interna U, a equação fundamental fundamental U = U ( S , V , N ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N)}} pode sempre ser "facilmente" reescrita, mediante troca de variáveis, para fornecer a equação, também fundamental, S = S ( U , V , N ) {\displaystyle S=S_{(U,V,N)}} , o que, de forma similar ao feito para o formalismo da energia, dá origem ao que se conhece por formalismo termodinâmico da entropia (ou entrópico), igualmente aplicável ao estudo dos sistemas termodinâmicos e capaz de fornecer os mesmos resultados e informações antes obtidos no formalismo da energia. Transformadas de Legendre podem ser igualmente aplicadas à equação fundamental S = S ( U , V , N ) {\displaystyle S=S_{(U,V,N)}} em acordo com o caso em estudo, fornecendo equações fundamentais que nem sempre recebem nomes especiais, sendo estas genericamente conhecidas por funções de Massieu. No formalismo da energia, a energia interna U ( S , V , N ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}} e suas transformadas são geralmente conhecidas por potenciais termodinâmicos.

A transformada de Legendre

Descrição

O gráfico de uma função, e de sua reta tangente, com inclinação f ( x ) = P ( x ) = f ( x ) x {\displaystyle f'_{(x)}=P_{(x)}={\frac {\partial f_{(x)}}{\partial x}}} no ponto x.
Há duas formas de se especificar a curva vista em vermelho na figura: fornecendo-se diretamente a relação entre Y e X (a exemplo Y=X²), ou especificando-se o conjunto de retas a ela tangentes - vistas em azul na figura. Para definir-se este conjunto de retas especifica-se a relação existente entre o interceptos Ψ {\displaystyle \Psi } e as inclinações P das respectivas retas: Ψ = P 2 / 4 {\displaystyle \Psi =-P^{2}/4} no exemplo. A transformada de Legendre,quando aplicada a uma das equações, fornece a outra (ou, ao rigor da matemática, menos a outra: Ψ = + P 2 / 4 {\displaystyle \Psi =+P^{2}/4} ).

Para a compreensão da transformação de Legendre ir-se-á considerar aqui a interpretação geométrica da Transformada de Legendre, e por comodidade mas sem perda de generalidade, considerar-se-á também uma função Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} dependente de apenas uma variável independente, X.

Sendo P = Y ( X ) x = d Y ( X ) d x {\displaystyle P={\frac {\partial {Y_{(X)}}}{\partial x}}={\frac {d{Y_{(X)}}}{dx}}} no presente caso, à primeira vista pode parecer que para se obter uma função Y ( P ) {\displaystyle Y_{(P)}} onde P e não X desempenha o papel de variável independente bastaria eliminar-se X em Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} mediante a relação estabelecida entre P e X por P = d Y ( X ) d x {\displaystyle P={\frac {d{Y_{(X)}}}{dx}}} . Um reflexão um pouco mais aguçada, entretanto, mostrará que neste processo perde-se informação associada à curva inicial visto que, uma vez conhecido Y ( P ) {\displaystyle Y_{(P)}} , não se pode inverter o processo de forma a se obter novamente de forma unívoca a função inicial Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} . Na transformação proposta a informação relativa à inclinação associada a um dado ponto da curva inicial Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} é preservada para cada ponto da curva, mas a informação sobre qual é exatamente este ponto X, ou seja, a informação de onde a reta tangente em X corta o eixo Y, não. Assim, apesar de ser possível se reconstruir o "formato" da curva inicial Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} partindo-se de Y ( P ) {\displaystyle Y_{(P)}} , a determinação da distância exata desta curva ao eixo coordenado Y no gráfico não será possível, podendo a curva que se obtém da reconstrução transladar livremente na horizontal; a informação da posição correta desta se perde na transformação inicial, conforme proposta.

A solução para o problema deve ser obtida partindo-se da observação de que qualquer equação Y ( P ) {\displaystyle Y_{(P)}} que permita construir a família de retas tangentes a uma dada curva - e não apenas conhecer a inclinação de cada reta tangente em questão - automaticamente determina a própria curva de forma tão boa quanto o faz a equação Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} da curva.

Para tal, considere a reta tangente à curva Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} no ponto específico (X,Y) cuja inclinação é P (ver figura). É possível identificar o ponto ψ {\displaystyle \psi } onde esta reta intercepta o eixo Y e perceber que, da definição de inclinação de uma reta:

P = Δ Y Δ X = Y ψ X 0 {\displaystyle P={\frac {\Delta Y}{\Delta X}}={\frac {Y-\psi }{X-0}}}

donde tem-se

ψ = Y P X {\displaystyle \psi =Y-PX}

Como as expressões Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} e P = P ( X ) {\displaystyle P=P_{(X)}} são conhecidas, uma simples álgebra matemática permite a eliminação de X e Y em favor de P e ψ {\displaystyle \psi } na equação acima, o que fornece a procurada relação ψ = ψ ( P ) {\displaystyle \psi =\psi _{(P)}} . Esta relação claramente permite a reconstrução de cada uma das retas tangentes com precisão, pois fornecendo-se o valor da inclinação P de uma delas, sabe-se com clareza, então, o ponto ψ {\displaystyle \psi } onde esta reta deve interceptar o eixo Y.

Para recuperar-se a equação original Y ( X ) {\displaystyle Y_{(X)}} partindo-se da equação ψ ( P ) {\displaystyle \psi _{(P)}} , basta considerar que a Transformada de Legendre é simétrica, exceto por um sinal de menos na equação de transformação,[4] à sua inversa. Assim, à parte um sinal de menos a se considerar, sendo T a transformação de Legendre, aplicá-la duas vezes em sequência fornecerá a mesma função inicial (T² = 1).

Em resumo tem-se:

A transformada de Legendre: Y ( X ) < > ψ ( P ) {\displaystyle Y_{(X)}<->\psi _{(P)}}
Y = Y ( X ) {\displaystyle Y=Y_{(X)}} Ψ = Ψ ( P ) {\displaystyle \Psi =\Psi _{(P)}}
P = Y ( X ) X {\displaystyle P={\frac {\partial Y_{(X)}}{\partial X}}} X = ψ ( P ) P {\displaystyle -X={\frac {\partial \psi _{(P)}}{\partial P}}}
Determinar X = X ( P ) {\displaystyle X=X_{(P)}} e Y = Y ( P ) {\displaystyle Y=Y_{(P)}} Determinar P = P ( X ) {\displaystyle P=P_{(X)}} e Ψ = Ψ ( X ) {\displaystyle \Psi =\Psi _{(X)}}
Ψ = P X + Y {\displaystyle \Psi =-PX+Y} Y = X P + Ψ {\displaystyle Y=XP+\Psi }
Eliminação de X e Y fornece Ψ = Ψ ( P ) {\displaystyle \Psi =\Psi _{(P)}} Eliminação de P e Ψ {\displaystyle \Psi } fornece Y = Y ( X ) {\displaystyle Y=Y_{(X)}}
Ψ = Ψ ( P ) {\displaystyle \Psi =\Psi _{(P)}} Y = Y ( X ) {\displaystyle Y=Y_{(X)}}

Ao rigor da Matemática [5]

Definições

Em matemática, a Transformada de Legendre, em homenagem a Adrien-Marie Legendre, é uma operação que transforma uma função real de variáveis reais em outra. A transformada de Legendre de uma função ƒ é a função ƒ definida por:

f ( p ) = max x ( p x f ( x ) ) . {\displaystyle f^{\star }(p)=\max _{x}{\bigl (}px-f(x){\bigr )}.}

Se ƒ é diferenciável, então ƒ(p) pode ser interpretado como o negativo [6] do intercepto em Y gerado por uma reta de inclinação particular p quando esta encontre-se tangente ao gráfico de ƒ. Em particular, para o valor de x associado ao máximo anterior tem-se a propriedade:

f ( x ) = p . {\displaystyle f^{\prime }(x)=p.}

Isto é, a derivada da função ƒ torna-se o argumento da função ƒ. Em particular, se ƒ é convexa (ou côncava para cima), então ƒ satisfaz a definição de um funcional.

f ( f ( x ) ) = x f ( x ) f ( x ) . {\displaystyle f^{\star }(f'(x))=xf'(x)-f(x).}

A Transformada de Legendre é sua própria inversa. Da mesma forma que as transformadas integrais, a Transformada de Legendre pega uma função ƒ(x) e fornece uma função de uma variável diferente p. Entretanto, enquanto as transformadas integrais consistem em integrais com um núcleo, a transformada Legendre usa o processo de maximização como processo de transformação. A transformada de Legendre é especialmente "bem-comportada" se ƒ(x) é uma função convexa.

A Transformada de Legendre é uma aplicação da relação de dualidade entre pontos e linhas. A função especificada por f(x) pode ser igualmente bem representada pelo conjunto de pontos (x, y), ou pelo conjunto de retas tangentes especificadas pelos valores de suas inclinações e pelos seus correspondentes interceptos no eixo coordenado Y.

A transformada de Legendre pode ser generalizada para fornecer a Transformada de Legendre-Fenchel.

A definição de Transformada de Legendre pode ser mais explícita. Para maximizar p x f ( x ) {\displaystyle px-f(x)} em relação a x {\displaystyle x} , faz-se a sua derivada igual a zero:

d d x ( p x f ( x ) ) = p d f ( x ) d x = 0. ( 1 ) {\displaystyle {\frac {\mathrm {d} }{\mathrm {d} x}}\left(px-f(x)\right)=p-{\mathrm {d} f(x) \over \mathrm {d} x}=0.\quad \quad (1)}

Então a expressão é maximizada quando:

p = d f ( x ) d x .   ( 2 ) {\displaystyle p={\mathrm {d} f(x) \over \mathrm {d} x}.\quad \quad \quad \quad \quad \quad \quad \quad \quad \quad \quad \quad \ (2)}

Quando f {\displaystyle f} é convexa, isto é seguramente um máximo porque a segunda derivada é negativa:

d 2 d x 2 ( x p f ( x ) ) = d 2 f ( x ) d x 2 < 0 , {\displaystyle {\mathrm {d} ^{2} \over \mathrm {d} x^{2}}(xp-f(x))=-{\mathrm {d} ^{2}f(x) \over \mathrm {d} x^{2}}<0,}

Em um próximo passo inverte-se (2) para obter-se x {\displaystyle x} como função de p {\displaystyle p} e leva-se o resultado (1) , o que fornece uma forma mais prática para o uso,

f ( p ) = p x ( p ) f ( x ( p ) ) . {\displaystyle f^{\star }(p)=p\,\,x(p)-f(x(p)).}

Esta definição fornece o processo convencional para se calcular a transformada de Legendre de f ( x ) {\displaystyle f(x)} : encontre p = d f d x {\displaystyle p={df \over dx}} , inverta para x {\displaystyle x} e substitua o resultado em x p f ( x ) {\displaystyle xp-f(x)} . Esta definição torna clara a seguinte interpretação: a Transformada de Legendre produz uma nova função, na qual a variável independente x {\displaystyle x} é substituída por p = d f d x {\displaystyle p={df \over dx}} , o qual é a derivada da função original em respeito a x {\displaystyle x} .

Consideração importante

Há ainda uma terceira definição para Transformada de Legendre: f {\displaystyle f} e f {\displaystyle f^{\star }} são ditas transformadas de Legendre uma da outra se suas primeiras derivadas são funções inversas uma da outra:

D f = ( D f ) 1 . {\displaystyle Df=\left(Df^{\star }\right)^{-1}.}

Pode-se ver isto através do cálculo da derivada de f {\displaystyle f^{\star }} :

d f ( p ) d p = d d p ( x p f ( x ) ) = x + p d x d p d f d x d x d p = x . {\displaystyle {df^{\star }(p) \over dp}={d \over dp}(xp-f(x))=x+p{dx \over dp}-{df \over dx}{dx \over dp}=x.}

Combinando-se esta equação com a condição de maximização ter-se-á como resultado o seguinte par de equações recíprocas:

p = d f d x ( x ) , {\displaystyle p={df \over dx}(x),}
x = d f d p ( p ) . {\displaystyle x={df^{\star } \over dp}(p).}

Vê-se que D f {\displaystyle Df} e D f {\displaystyle Df^{\star }} são inversas, conforme prometido. Elas são unívocas a menos de uma constante aditiva que é fixada pelo requerimento adicional de que:

f ( x ) + f ( p ) = x p . {\displaystyle f(x)+f^{\star }(p)=x\,p.}

embora em alguns casos, a exemplo explicito, na termodinâmica e mecânica clássica, um requerimento não padronizado seja utilizado:

f ( x ) f ( p ) = x p . {\displaystyle f(x)-f^{\star }(p)=x\,p.}

O último requisito foi o utilizado em todas as demais seções deste artigo, embora o rigor matemático solicite o primeiro: ao rigor da matemática a Transformada de Legendre é exatamente a sua própria inversa, e encontra-se assim diretamente relacionada à Integração por partes.

Exemplos

Com uma variável

A exemplo, aplicar-se-á a transformada de Legendre à função Y ( X ) = X 2 {\displaystyle Y_{(X)}=X^{2}}

Tem-se, seguindo-se os passos da tabela anterior:

Da linha 2:

P = Y ( X ) X = 2 X {\displaystyle P={\frac {\partial Y_{(X)}}{\partial X}}=2X}

Logo, para a linha 3: X = p 2 {\displaystyle X={\frac {p}{2}}}

e Y = X 2 = ( p 2 ) 2 {\displaystyle Y=X^{2}=\left({\frac {p}{2}}\right)^{2}}

Da linha 4: Ψ = P X + Y {\displaystyle \Psi =-PX+Y}

Eliminando-se X e Y:

Ψ = P ( P 2 ) + ( P 2 ) 2 {\displaystyle \Psi =-P\left({\frac {P}{2}}\right)+\left({\frac {P}{2}}\right)^{2}}

resulta em:

Ψ = P 2 4 {\displaystyle \Psi ={\frac {-P^{2}}{4}}}

Assim, a Transformada de Legendre para Y ( X ) = X 2 {\displaystyle Y_{(X)}=X^{2}} é Ψ ( P ) = P 2 4 {\displaystyle \Psi _{(P)}={\frac {-P^{2}}{4}}} [7]

A transformação inversa ficará a cargo do leitor.

Com duas ou mais variáveis

A título de ilustração calcular-se-á a energia livre de Helmholtz F ( T , V , N ) {\displaystyle F_{(T,V,N)}} para um gás ideal partindo-se da equação fundamental para a energia interna U ( S , V , N ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}} .

Conforme antes apresentado (e mantidas as mesmas ressalvas), para um gás monoatômico ideal constituído por N partículas confinadas em um volume V e com uma entropia interna S:

U ( S , V , N ) = N ( N V ) 2 3 e 2 3 ( S N k B c ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}=N\left({\frac {N}{V}}\right)^{\frac {2}{3}}e^{{\frac {2}{3}}\left({\frac {S}{Nk_{B}}}-c\right)}}

da qual busca-se a energia de Helmholtz F, a ser calculada como:

F = U T S {\displaystyle F=U-TS}

mediante substituição da variável S pela sua respectiva conjugada, T.

Pelo formalismo termodinâmico tem-se que:

T = ( U ( S , V , N ) S ) V , N {\displaystyle T=\left({\frac {\partial U_{(S,V,N)}}{\partial S}}\right)_{V,N}}

onde os índices V e N enfatizam que as grandezas volume V e quantidade de partículas N devem ser tratadas como constantes na derivada parcial. Procedendo-se o cálculo da derivada ter-se-á:

T = ( U ( S , V , N ) S ) V , N = 2 3 k B ( N V ) 2 3 e 2 3 ( S N k B c ) {\displaystyle T=\left({\frac {\partial U_{(S,V,N)}}{\partial S}}\right)_{V,N}={\frac {2}{3k_{B}}}\left({\frac {N}{V}}\right)^{\frac {2}{3}}e^{{\frac {2}{3}}\left({\frac {S}{Nk_{B}}}-c\right)}}

Isolando-se a entropia como função da temperatura e demais grandezas ter-se-á:

S = 3 N k B 2 ln [ 3 2 k B T ( V N ) 2 3 ] + c N k B {\displaystyle S={\frac {3Nk_{B}}{2}}\ln \left[{\frac {3}{2}}k_{B}T\left({\frac {V}{N}}\right)^{\frac {2}{3}}\right]+cNk_{B}}

a ser substituída em

F = U T S = N ( N V ) 2 3 e 2 3 ( S N k B c ) T S {\displaystyle F=U-TS=N\left({\frac {N}{V}}\right)^{\frac {2}{3}}e^{{\frac {2}{3}}\left({\frac {S}{Nk_{B}}}-c\right)}-TS}

o que resulta em:

F = N ( N V ) 2 3 e 2 3 ( 3 N k B 2 ln [ 3 2 k B T ( V N ) 2 3 ] + c N k B N k B c ) T ( 3 N k B 2 ln [ 3 2 k B T ( V N ) 2 3 ] + c N k B ) {\displaystyle F=N\left({\frac {N}{V}}\right)^{\frac {2}{3}}e^{{\frac {2}{3}}\left({\frac {{\frac {3Nk_{B}}{2}}\ln \left[{\frac {3}{2}}k_{B}T\left({\frac {V}{N}}\right)^{\frac {2}{3}}\right]+cNk_{B}}{Nk_{B}}}-c\right)}-T\left({\frac {3Nk_{B}}{2}}\ln \left[{\frac {3}{2}}k_{B}T\left({\frac {V}{N}}\right)^{\frac {2}{3}}\right]+cNk_{B}\right)}

Uma simples inspeção na equação anterior, mesmo sem simplificá-la, permite a conclusão de que a função F já encontra-se dependente apenas das variáveis T, V e N, conforme pretendido.

Procendo com os cálculos, ter-se-á:

F = N ( N V ) 2 3 3 2 k B T ( V N ) 2 3 3 2 N k B T ln [ 3 2 k B T ( V N ) 2 3 ] c N k B T {\displaystyle F=N\left({\frac {N}{V}}\right)^{\frac {2}{3}}\cdot {\frac {3}{2}}k_{B}T\left({\frac {V}{N}}\right)^{\frac {2}{3}}-{\frac {3}{2}}Nk_{B}T\ln \left[{\frac {3}{2}}k_{B}T\left({\frac {V}{N}}\right)^{\frac {2}{3}}\right]-cNk_{B}T}

o que, com mais algumas simplificações, resulta em:

F ( T , V , N ) = N k B T ln ( N V ) 3 2 N k B T ln ( 3 k B T 2 ) + N k B T ( 3 2 c ) {\displaystyle F_{(T,V,N)}=Nk_{B}T\ln \left({\frac {N}{V}}\right)-{\frac {3}{2}}Nk_{B}T\ln \left({\frac {3k_{B}T}{2}}\right)+Nk_{B}T\left({\frac {3}{2}}-c\right)}

que é a Energia Livre de Helmholtz para um gás ideal, uma equação fundamental com exatamente as mesmas informações contidas na equação original para a energia interna.

Novamente termodinâmica, e mecânica clássica

Termodinâmica: tabelas de transformadas

No contexto da termodinâmica, dentre todas as possíveis transformadas de Legendre, as seguintes são particularmente muito frequêntes e importantes:

Transformadas de Legendre na Termodinâmica - Formalismo da Energia - Partindo-se de U ( S , V , N ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}} tem-se:
U = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} U = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} H = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} F = F ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle F=F_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}}
T = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) S {\displaystyle T={\frac {\partial U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}}{\partial S}}} P = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) V {\displaystyle -P={\frac {\partial U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}}{\partial V}}} T = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) S {\displaystyle T={\frac {\partial H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}}{\partial S}}} μ i = F ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) N i {\displaystyle \mu _{i}={\frac {\partial F_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}}{\partial N_{i}}}}
Determinar S = S ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle S=S_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}} e U = U ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}} Determinar V = V ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle V=V_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} e U = U ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} Determinar S = S ( T , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle S=S_{(T,P,N_{1},N_{2}...)}} e H = H ( T , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle H=H_{(T,P,N_{1},N_{2}...)}} Determinar F = F ( T , V , μ 1 , μ 2 . . . ) {\displaystyle F=F_{(T,V,\mu _{1},\mu _{2}...)}} e N i = N i ( T , V , μ 1 , μ 2 . . . ) {\displaystyle N_{i}=N_{i(T,V,\mu _{1},\mu _{2}...)}}
F = U T S {\displaystyle F=U-TS} H = U + P V {\displaystyle H=U+PV} G = H T S {\displaystyle G=H-TS} C = F Σ μ i N i {\displaystyle C=F-\Sigma \mu _{i}N_{i}}
Eliminação de U e S fornece: Eliminação de U e V fornece: Eliminação de H e S fornece: Eliminação de F e N i {\displaystyle N_{i}} fornece:
Energia Livre de Helmholtz F Entalpia H Energia livre de Gibbs G Grande Potencial Canônico C
F = F ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle F=F_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}} H = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} G = G ( T , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle G=G_{(T,P,N_{1},N_{2}...)}} C = C ( T , V , μ 1 , μ 2 . . . ) {\displaystyle C=C_{(T,V,\mu _{1},\mu _{2}...)}}
Transformadas de Legendre em Termodinâmica - Formalismo da Energia - Para chegar-se a U ( S , V , N ) {\displaystyle U_{(S,V,N)}} tem-se:
F = F ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle F=F_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}} H = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} G = G ( T , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle G=G_{(T,P,N_{1},N_{2}...)}} C = C ( T , V , μ 1 , μ 2 . . . ) {\displaystyle C=C_{(T,V,\mu _{1},\mu _{2}...)}}
S = F ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) T {\displaystyle -S={\frac {\partial F_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}}{\partial T}}} V = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) P {\displaystyle V={\frac {\partial H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}}{\partial P}}} S = G ( T , P , N 1 , N 2 . . . ) T {\displaystyle -S={\frac {\partial G_{(T,P,N_{1},N_{2}...)}}{\partial T}}} N i = C ( T , V , μ 1 , μ 2 . . . ) μ i {\displaystyle -N_{i}={\frac {\partial C_{(T,V,\mu _{1},\mu _{2}...)}}{\partial \mu _{i}}}}
Determinar T = T ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle T=T_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} e F = F ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle F=F_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} Determinar P = P ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle P=P_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} e H = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} Determinar G = G ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle G=G_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} e T = T ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle T=T_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} Determinar C = C ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle C=C_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}} e μ i = μ i ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle \mu _{i}=\mu _{i(T,V,N_{1},N_{2}...)}}
U = F + T S {\displaystyle U=F+TS} U = H P V {\displaystyle U=H-PV} H = G + T S {\displaystyle H=G+TS} F = F + Σ μ N i {\displaystyle F=F+\Sigma \mu N_{i}}
Eliminação de T e F fornece: Eliminação de P e H fornece: Eliminação de G e T fornece: Eliminação de C e μ i {\displaystyle \mu _{i}} fornece:
Energia Interna U Energia Interna UEntalpia H Energia Livre de Helmhotz F
U = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} U = U ( S , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle U=U_{(S,V,N_{1},N_{2}...)}} H = H ( S , P , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle H=H_{(S,P,N_{1},N_{2}...)}} F = F ( T , V , N 1 , N 2 . . . ) {\displaystyle F=F_{(T,V,N_{1},N_{2}...)}}

Lagrangianas e Hamiltonianos

No contexto da mecânica clássica o princípio de Lagrange[8] garante que uma função particular, a Lagrangiana do sistema, caracteriza-o completamente no que se refira à sua dinâmica. A Lagrangiana é uma função de 2r variáveis, r coordenadas generalizadas e r velocidades generalizadas, e desempenha em mecânica, de forma similar ao de S ( U , V , N ) {\displaystyle S_{(U,V,N)}} na termodinâmica, o papel de equação fundamental para a dinâmica:

L = L ( v 1 , v 2 , . . . , v r , q 1 , q 2 , . . . , q r ) {\displaystyle L=L_{(v_{1},v_{2},...,v_{r},q_{1},q_{2},...,q_{r})}}

Sendo uma equação fundamental, aplicando-se o formalismo da mecânica Lagrangiana pode-se então chegar às equações diferenciais e posteriormente às equações horárias que descrevem toda a dinâmica do sistema em questão.

A transformada de Legendre aplica-se também à Lagrangiana. Neste contexto, o momento generalizado P k {\displaystyle P_{k}} conjugado à correspondente velocidade v k {\displaystyle v_{k}} é definido como a deriva parcial da lagrangiana em relação à respectiva velocidade v k {\displaystyle v_{k}} (k<=r):

P k = L ( v 1 , v 2 , . . . , v r , q 1 , q 2 , . . . , q r ) v k {\displaystyle P_{k}={\frac {\partial L_{(v_{1},v_{2},...,v_{r},q_{1},q_{2},...,q_{r})}}{\partial v_{k}}}}

Caso deseje-se substituir como variáveis independentes todas as velocidades pelos correspondentes momentos, devem-se fazer Transformadas de Legendre em relação a todas as velocidades. Assim, introduz-se uma nova função, chamada Hamiltoniano, definida por:

( H ) = L Σ 1 r P k v k {\displaystyle (-H)=L-\Sigma _{1}^{r}{P_{k}v_{k}}}

Um novo formalismo dinâmico, a mecânica hamiltoniana, pode então ser empregada em termos da nova equação fundamental H ( P 1 , P 2 , . . . P r , q 1 , q 2 , . . . , q r ) {\displaystyle H_{(P_{1},P_{2},...P_{r},q_{1},q_{2},...,q_{r})}}

As hamiltonianas são particularmente importantes no estudo da mecânica quântica.

Exemplo

Oscilador harmônico simples ideal. O estudo deste sistema pode ser feito através do conhecimento de sua Lagrangiana ou de seu Hamiltoniano. Conhecida um destas funções, obtém-se facilmente a outra através da Transformada de Legendre

Inicialmente determinar-se-á a Lagrangiana e posteriormente o Hamiltoniano para um oscilador harmônico unidimensional constituído de uma massa presa em uma das extremidades de a uma mola e apoiada em uma mesa sem atrito.

A Lagrangiana do sistema é definida no contexto da mecânica lagrangiana como a diferença entre a energia cinética T e a energia potencial U do sistema, o que para este presente caso resulta, considerado que só há energia potencial elástica no sistema:

L ( x , x ˙ ) = T U = 1 2 m x ˙ 2 1 2 k x 2 {\displaystyle L_{(x,{\dot {x}})}=T-U={\frac {1}{2}}m{\dot {x}}^{2}-{\frac {1}{2}}kx^{2}}

Nesta equação, x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} representa a velocidade da partícula associada à coordenada x.

A partir desta equação fundamental pode-se, de posse do formalismo da mecânica lagrangiana e do Princípio de Lagrange, determinar a equação de movimento para a massa.

Para fins de comparação das soluções, a solução no formalismo lagrangiano é apresentado abaixo, partindo-se para tal do Princípio de Lagrange que afirma, sendo

L = L ( x 1 , x 2 , . . . , x n , x 1 ˙ , x 2 ˙ , . . . , x n ˙ ) {\displaystyle L=L_{(x_{1},x_{2},...,x_{n},{\dot {x_{1}}},{\dot {x_{2}}},...,{\dot {x_{n}}})}} tem-se, com i=1,2,...

que:

L x i d d t L x i ˙ = 0 {\displaystyle {\frac {\partial L}{\partial x_{i}}}-{\frac {d}{dt}}{\frac {\partial L}{\partial {\dot {x_{i}}}}}=0}

Para o problema em questão:

L x = k x {\displaystyle {\frac {\partial L}{\partial x}}=-kx}

L x ˙ = m x ˙ {\displaystyle {\frac {\partial L}{\partial {\dot {x}}}}=m{\dot {x}}}

d d t ( L x ˙ ) = m x ¨ {\displaystyle {\frac {d}{dt}}\left({\frac {\partial L}{\partial {\dot {x}}}}\right)=m{\ddot {x}}}

O que, substituído na equação para o Princípio de Lagrange, fornece:

m x ¨ + k x = 0 {\displaystyle m{\ddot {x}}+kx=0} , que é a equação diferencial para o sistema em estudo.

A solução desta equação diferencial leva a uma função horária cossenoidal para o movimento da massa no oscilador harmônico simples considerado (para a solução, consulte o artigo dedicado).

X ( t ) = A c o s ( k x ω t + ϕ ) {\displaystyle X(t)=Acos(kx-\omega t+\phi )}

onde ω = ( k m ) 1 2 {\displaystyle \omega =\left({\frac {k}{m}}\right)^{\frac {1}{2}}}

Procura-se agora chegar a uma mesma solução através do formalismo da mecânica hamiltoniana.

O Hamiltoniano para o sistema pode ser obtida através da Transformada de Legendre aplicada à Lagrangiana, conforme descrito anteriormente.

Seguindo-se os passos prescritos, o momento generalizado associado à velocidade x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} é:

P = L ( x , x ˙ ) x ˙ = m x ˙ {\displaystyle P={\frac {\partial L_{(x,{\dot {x}})}}{\partial {\dot {x}}}}=m{\dot {x}}}

de onde, isolando-se x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}}

x ˙ = P m {\displaystyle {\dot {x}}={\frac {P}{m}}}

Determinando-se o Hamiltoniano H através de

( H ) = L P x ˙ {\displaystyle (-H)=L-P{\dot {x}}}

tem-se, já eliminando-se x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} em favor de P:

( H ) = 1 2 m ( P m ) 2 1 2 k x 2 P ( P m ) {\displaystyle (-H)={\frac {1}{2}}m\left({\frac {P}{m}}\right)^{2}-{\frac {1}{2}}kx^{2}-P\left({\frac {P}{m}}\right)}

Resolvendo, chega-se ao Hamiltoniano do sistema, uma equação fundamental que contém igualmente todas as informações necessárias sobre a dinâmica do sistema:

H ( P , x ) = P 2 2 m + 1 2 k x 2 {\displaystyle H_{(P,x)}={\frac {P^{2}}{2m}}+{\frac {1}{2}}kx^{2}}

Aplicar-se-á agora o formalismo da mecânica hamiltoniana a fim de se comparar os resultados.

As equações diferenciais de movimento no formalismo de Hamilton são, já adaptadas ao problema unidimensional com variáveis x e P (fez-se q=x para tal):

x ˙ = H P = P / m {\displaystyle {\dot {x}}={\frac {\partial H}{\partial P}}=P/m}

P ˙ = H x = k x {\displaystyle -{\dot {P}}={\frac {\partial H}{\partial x}}=kx}

Da primeira tem-se:

P = m x ˙ {\displaystyle P=m{\dot {x}}} donde

P ˙ = m x ¨ {\displaystyle {\dot {P}}=m{\ddot {x}}} para um sistema com massa constante.

Substituindo na segunda:

P ˙ = k x = m x ¨ {\displaystyle -{\dot {P}}=kx=-m{\ddot {x}}}

e por fim

k x + m x ¨ = 0 {\displaystyle kx+m{\ddot {x}}=0}

que é a mesma equação diferencial antes obtida pelo formalismo lagrangiano, o que leva à mesma solução já apresentada, obviamente.

Ver também

Referências

  1. A redação da maior parte deste artigo dá-se em acordo com o descrito em Callen, Herbert B. - Thermodynamics and An Introduction to Thermostatics - John Wiley & Sons - ISBN 0-471-86256-8
  2. A saber, o expoente em funções exponenciais e o argumento em logaritmos devem ser adimensionais. Para maiores detalhes, consulte a versão anglófona do artigo Gases ideais.
  3. Em acordo com Salinas, Sílvio R. A. - Introdução à Física Estatística - EdUSP - 1999 - ISBN 85-314-0386-3
  4. O leitor é alertado neste ponto sobre algumas sutilezas na(s) definição(ões) de Transformada de Legendre, devendo o mesmo proceder a leitura da seção Consideração importante para maiores detalhes.
  5. Conforme tradução parcial do artigo encontrado na versão anglófona da Wikipédia em 14 de fevereiro de 2010 às 22:58 horas.
  6. Em termodinâmica e em várias outras situações não considera-se este sinal, devendo tomar-se algum cuidado quanto ao mesmo, conforme mais adiante explicado no presente texto.
  7. Ao rigor da matemática, Ψ ( P ) = + P 2 4 {\displaystyle \Psi _{(P)}={\frac {+P^{2}}{4}}} .
  8. Para maiores detalhes sobre os formalismos de Lagrange e de Hamilton consulte Thornton; Marion - Classical Dynamics of Particle and Systems Fourth Edition - Sounders College Publishing, 1995 - ISBN 0-03-097302-3