Teorema do valor intermediário

Teorema do Valor Intermediário.

O teorema do valor intermediário (português brasileiro) ou intermédio (português europeu) ou teorema de Bolzano (por vezes chamado teorema de Bolzano-Cauchy) garante que, se uma função real f {\displaystyle f} definida num intervalo [ a , b ] {\displaystyle [a,b]} é continua, então qualquer ponto d {\displaystyle d} tal que f ( a ) d f ( b ) {\displaystyle f(a)\leq d\leq f(b)} ou f ( a ) d f ( b ) {\displaystyle f(a)\geq d\geq f(b)} é da forma f ( c ) {\displaystyle f(c)} , para algum ponto c {\displaystyle c} do intervalo [ a , b ] {\displaystyle [a,b]} .[1] Em outras palavras, para uma tal função, dado qualquer valor d {\displaystyle d} entre f ( a ) {\displaystyle f(a)} e f ( b ) {\displaystyle f(b)} , existe pelo menos um c {\displaystyle c} entre a {\displaystyle a} e b {\displaystyle b} tal que f ( c ) = d {\displaystyle f(c)=d} . Ou ainda, qualquer reta horizontal y = d {\displaystyle y=d} entre as retas f ( a ) {\displaystyle f(a)} e f ( b ) {\displaystyle f(b)} intercepta o gráfico da função em pelo menos um ponto ( c , d ) {\displaystyle (c,d)} com c [ a , b ] {\displaystyle c\in [a,b]} .

Corolário do Teorema de Bolzano

Corolário do Teorema de Bolzano.

O Corolário do Teorema de Bolzano é um caso particular deste teorema quando d = 0. {\displaystyle d=0.} Ou seja se numa função contínua considerando dois pontos a {\textstyle a} e b {\textstyle b} e f ( a ) f ( b ) < 0 , {\displaystyle f(a)f(b)<0,} então existe pelo menos um ponto c ] a , b [ : f ( c ) = 0. {\displaystyle c\in ]a,b[:f(c)=0.} Ou seja, a função tem pelo menos uma raiz entre a {\textstyle a} e b {\textstyle b} .[1]

Demonstrações

Nas demonstrações que se seguem vai-se supor que se está no caso em que f(a) ≤ d ≤ f(b); o outro caso é análogo.[1]

Primeira demonstração

Considerem-se os números a1 e b1 assim definidos:

  • se f((a + b)/2) ≤ d, então a1 = (a + b)/2 e b1 = b;
  • caso contrário, a1 = a e b1 = (a + b)/2.

Então a ≤ a1 ≤ b1 ≤ b, f(a1) ≤ d ≤ f(b1) e b1 − a1 = (b − a)/2.

Em seguida, definem-se pontos a2 e b2 a partir de a1 e b1 pelo mesmo processo e assim sucessivamente. Se se definir a0 = a e b0 = b, fica-se com uma sucessão ([an,bn])n ≥ 0 de intervalos que é decrescente, ou seja

[ a 0 , b 0 ] [ a 1 , b 1 ] [ a 2 , b 2 ] {\displaystyle [a_{0},b_{0}]\supset [a_{1},b_{1}]\supset [a_{2},b_{2}]\supset \cdots }

Pelo teorema do encaixe de intervalos, existe algum c que está em todos os intervalos. Por outro lado, como o comprimento de cada intervalo é metade do anterior, o comprimento dos intervalos tende para 0. Resulta deste facto e da definição de c que

c = lim n N a n = lim n N b n . {\displaystyle c=\lim _{n\in \mathbb {N} }a_{n}=\lim _{n\in \mathbb {N} }b_{n}.}

Mas então, como f é contínua em c e como

( n N ) : f ( a n ) d f ( b n ) , {\displaystyle (\forall n\in \mathbb {N} ):f(a_{n})\leqslant d\leqslant f(b_{n}),}

tem-se

f ( c ) = lim n N f ( a n ) d  e  f ( c ) = lim n N f ( b n ) d . {\displaystyle f(c)=\lim _{n\in \mathbb {N} }f(a_{n})\leqslant d{\mbox{ e }}f(c)=\lim _{n\in \mathbb {N} }f(b_{n})\geqslant d.}

Logo, f ( c ) = d {\displaystyle f(c)=d} .

Segunda demonstração

Seja

S = { x [ a , b ] | ( y [ a , x ] ) : f ( y ) d } {\displaystyle S=\left\{x\in [a,b]\,\vert \,(\forall y\in [a,x]):f(y)\leqslant d\right\}}

Então S é majorado (nenhum elemento de S é maior do que b) e não é vazio (pois contém a). Logo, tem um supremo c. Então f(c) ≤ d, pois:

  • se c = a, então tem-se f(c) ≤ d por hipótese;
  • caso contrário, como f é contínua em c e f(x) ≤ d quando a ≤ x < c, f(c) ≤ d.

Se se tivesse f(c) < d, haveria, pela continuidade de f em c, pontos x tais que c < x ≤ b para os quais se teria f(y) < d em todo o intervalo [a,x], o que contradiz o facto de c ser o supremo de S. Logo, f(c) = d.

Corolários

  • Uma função real de variável real contínua aplica intervalos em intervalos.
  • Se f é uma função contínua de [a,b] em R e se f(a) e f(b) têm sinais opostos, então existe pelo menos um número real c entre a e b tal que f(c) = 0.[1]
  • Teorema dos pontos antipodais: Em qualquer círculo máximo em torno da Terra sempre existem pontos antipodais com mesma temperatura, pressão ou elevação (ou qualquer quantidade escalar que varie continuamente).[2]
Demonstração
Chama de f {\displaystyle f} a função contínua definida no círculo em questão. Claramente, f ( 0 ) = f ( 2 π ) {\displaystyle f(0)=f(2\pi )} . Define g ( t ) = f ( t ) f ( t + π ) {\displaystyle g(t)=f(t)-f(t+\pi )} . Nota que a função g {\displaystyle g} fornece a diferença da função f {\displaystyle f} entre dois pontos opostos no círculo, ou seja, pontos antipodais. Se g {\displaystyle g} é constante e igual a zero a afirmação fica estabelecida. Senão, pega um ponto a {\displaystyle a} tal que g ( a ) > 0 {\displaystyle g(a)>0} . Agora, observa que g ( a ) = g ( a + π ) {\displaystyle g(a)=-g(a+\pi )} . Pelo Teorema do valor intermediário, existe c [ a , a + π ] {\displaystyle c\in [a,a+\pi ]} tal que g ( c ) = 0 {\displaystyle g(c)=0} . Portanto, f ( c ) = f ( c + π ) {\displaystyle f(c)=f(c+\pi )} . cqd

Referências

  1. a b c d Ávila, Geraldo (1999). Introdução à análise matemática. São Paulo: Edgard Blucher. ISBN 8521201680 
  2. Brannan, David (2006). A First Course in Mathematical Analysis (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. p. 145-146. ISBN 0521864399 

Referências gerais

  • Agudo, F. R. Dias, Análise Real (3 volumes), Lisboa: Escolar Editora, 1994
  • Ostrowski, A., Lições de Cálculo Diferencial e Integral (3 volumes), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1981