Paradoxo de Banach–Tarski

O "paradoxo" de Banach–Tarski: Uma esfera pode ser decomposta e recomposta em duas esferas cada uma do mesmo tamanho da original.

O teorema de Banach–Tarski estabelece que é possível dividir uma esfera sólida em um número finito de pedaços (em um caso particular Raphael M. Robinson dividiu em exatamente cinco pedaços), e com estes pedaços construir duas esferas, do mesmo tamanho da original. É considerado um paradoxo por ser um resultado contra-intuitivo, mas não por ser contraditório ou por introduzir contradições.

O teorema pode ser generalizado para quaisquer regiões do espaço que sejam limitadas e que tenham um interior, ou, mais especificamente:

Sejam X {\displaystyle X\,} e Y {\displaystyle Y\,} dois subconjuntos de R 3 {\displaystyle \mathbb {R} ^{3}\,} que são limitados e cujo interior não é vazio. Então é possível decompor X {\displaystyle X\,} e Y {\displaystyle Y\,} em partições finitas { X 1 , X 2 , , X n } {\displaystyle \{X_{1},X_{2},\ldots ,X_{n}\}\,} e { Y 1 , Y 2 , , Y n } {\displaystyle \{Y_{1},Y_{2},\ldots ,Y_{n}\}\,} tal que cada X i {\displaystyle X_{i}\,} é congruente a cada Y i {\displaystyle Y_{i}\,} .[1]

Naturalmente não é possível cortar desta forma uma esfera real, como uma laranja, com uma faca real. Trata-se de uma abstração matemática. A demonstração prova a existência teórica de uma forma de repartir a esfera com estas características. Não há uma prova construtivista, isto é, que descreva a maneira pela qual a esfera deve ser repartida. A demonstração faz uso do axioma da escolha.

Banach e Tarski propuseram este paradoxo como uma evidência para se rejeitar o axioma da escolha, mas os matemáticos apenas consideram que o axioma da escolha tem consequências bizarras e contra-intuitivas.

Esboço da demonstração

A demonstração se baseia na construção de duas matrizes 3 × 3 {\displaystyle 3\times 3} . Uma destas matrizes, ψ {\displaystyle \psi } é uma rotação de 120 {\displaystyle 120^{\circ }} em torno do eixo z {\displaystyle z} , e a outra matriz, φ {\displaystyle \varphi } , corresponde à reflexão sobre o plano x z {\displaystyle xz} seguida de uma rotação de um ângulo θ {\displaystyle \theta } em torno do eixo y {\displaystyle y} . A primeira matriz ψ {\displaystyle \psi } é tal que seu cubo é a matriz identidade, e a segunda é tal que seu quadrado é a identidade. Assim, cada elemento do grupo gerado por estas duas matrizes pode ser escrito como uma sequência finita de produtos da segunda matriz pela primeira matriz ( ψ {\displaystyle \psi } ) ou pelo quadrado da primeira matriz ( φ 2 {\displaystyle \varphi ^{2}} ).[1] Caso o ângulo θ {\displaystyle \theta } seja tal que seu cosseno seja um número transcendente, então a representação de cada elemento deste grupo é única.[1]

Este grupo de matrizes G {\displaystyle G} pode ser decomposto em três conjuntos, G 1 , G 2 {\displaystyle G_{1},G_{2}} e G 3 , {\displaystyle G_{3},} com a propriedade que g {\displaystyle g\,} é um elemento de G 1 {\displaystyle G_{1}} se, e somente se, ψ g {\displaystyle \psi \,g} é um elemento de G 2 {\displaystyle G_{2}\,} e ψ 2 g {\displaystyle \psi ^{2}\,g\,} é um elemento de G 3 {\displaystyle G_{3}} . Estes conjuntos, que são compostos de rotações e reflexões, portanto transformam um conjunto de pontos em outro conjunto congruente, são usados para decompor uma esfera em uma partição { P , S 1 , S 2 , S 3 } {\displaystyle \{P,S_{1},S_{2},S_{3}\}} , em que P {\displaystyle P\,} é um conjunto enumerável e as outras parcelas se relacionam através da rotação φ {\displaystyle \varphi } e da matriz φ {\displaystyle \varphi } :[1]

φ ( S 1 ) = S 2 S 3 {\displaystyle \varphi (S_{1})=S_{2}\cup S_{3}\,}
ψ ( S 1 ) = S 2 {\displaystyle \psi (S_{1})=S_{2}\,}
ψ 2 ( S 1 ) = S 3 {\displaystyle \psi ^{2}(S_{1})=S_{3}\,}

Esta decomposição faz-se definindo-se classes de equivalência entre os elementos da esfera (excluindo o conjunto enumerável P {\displaystyle P} ) como x y {\displaystyle x\sim y\,} quando existe algum elemento g {\displaystyle g\,} do grupo de matrizes tal que g ( x ) = y {\displaystyle g(x)=y\,} , e escolhendo-se o conjunto C {\displaystyle C\,} com um elemento de cada classe de equivalência. Este passo requer uso do axioma da escolha. Cada conjunto S i {\displaystyle S_{i}\,} é obtido a partir de C {\displaystyle C\,} através de elementos dos conjuntos de matrizes G i {\displaystyle G_{i}} , ou seja, S i = G i ( C ) {\displaystyle S_{i}=G_{i}(C)\,} .[1]

Referências

  1. a b c d e Gary L. Wise; Eric B. Hall (1993). «Capítulo 6: Product Spaces». Counterexamples in Probability and Real Analysis. Nova York, Oxford: Oxford University Press. p. 121–123. ISBN 0-19-507068-2 
Ícone de esboço Este artigo sobre matemática é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.
  • v
  • d
  • e