Lema de Urysohn

O lema de Urysohn é um importante resultado em matemática, mais especificamente em topologia; demonstrado pela primeira vez pelo matemático russo Pavel Samuilovich Urysohn, afirma que se um espaço topológico é normal, então quaisquer fechados disjuntos em tais espaços podem ser separados por uma função.

Enunciado

O enunciado do Lema de Urysohn, provado pelo próprio em 1925, diz que se X , τ {\displaystyle \langle X,\tau \rangle } é um espaço topológico normal; dados os τ {\displaystyle \tau } -fechados e disjuntos A , B X {\displaystyle A,B\subseteq X} , existe uma função contínua f : X [ 0 , 1 ] {\displaystyle f:X\to [0,1]} tal que f ( A ) { 0 } {\displaystyle f(A)\subseteq \{0\}} e f ( B ) { 1 } {\displaystyle f(B)\subseteq \{1\}} . Tal função é chamada função de Urysohn

Demonstração

Considere o conjunto S {\displaystyle S} dos racionais em [ 0 , 1 ] {\displaystyle [0,1]} , isto é

S = [ 0 , 1 ] Q = { s 0 = 0 , s 1 = 1 , , s n , } . {\displaystyle S=[0,1]\cap \mathbb {Q} =\{s_{0}=0,s_{1}=1,\dots ,s_{n},\dots \}.}

Dados os fechados A {\displaystyle A} e B {\displaystyle B} , definimos uma seqüência de abertos indexados em S {\displaystyle S} tais que

U s i U s j {\displaystyle U_{s_{i}}\subseteq U_{s_{j}}}

sempre que s i < s j {\displaystyle s_{i}<s_{j}} , para quaisquer i , j ω {\displaystyle i,j\in \omega } . Para isso, tome o aberto X B {\displaystyle X\setminus B} . Como X {\displaystyle X} é normal, existe um aberto U 0 {\displaystyle U_{0}} tal que

A U 0 U ¯ 0 X B . {\displaystyle A\subseteq U_{0}\subseteq {\overline {U}}_{0}\subseteq X\setminus B.}

Defina U s 1 = X B {\displaystyle U_{s_{1}}=X\setminus B} . Tome s 2 S { 0 , 1 } {\displaystyle s_{2}\in S\setminus \{0,1\}} , temos que 0 < s 2 < 1 {\displaystyle 0<s_{2}<1} . Portanto podemos escolher um τ {\displaystyle \tau } -aberto U s 2 {\displaystyle U_{s_{2}}} tal que

U ¯ 0 U s 2 U ¯ s 2 U 1 . {\displaystyle {\overline {U}}_{0}\subseteq U_{s_{2}}\subseteq {\overline {U}}_{s_{2}}\subseteq U_{1}.}

Assim, seja s 3 S { 0 , 1 , s 2 } {\displaystyle s_{3}\in S\setminus \{0,1,s_{2}\}} e tome q 3 = max { x { 0 , 1 , s 2 } : x < s 3 } {\displaystyle q_{3}=\max\{x\in \{0,1,s_{2}\}:x<s_{3}\}} e r 3 = min { x { 0 , 1 , s 2 } : s 3 < x } {\displaystyle r_{3}=\min\{x\in \{0,1,s_{2}\}:s_{3}<x\}} . Assim, novamente pela normalidade do espaço, podemos escolher um τ {\displaystyle \tau } -aberto U s 3 {\displaystyle U_{s_{3}}} tal que

U ¯ q 3 U s 3 U ¯ s 3 U r 3 . {\displaystyle {\overline {U}}_{q_{3}}\subseteq U_{s_{3}}\subseteq {\overline {U}}_{s_{3}}\subseteq U_{r_{3}}.}

Procedemos, analogamente, por indução. Suponha, pelo bem da demonstração, que já estejam escolhidos os τ {\displaystyle \tau } -abertos U 0 , , U s n {\displaystyle U_{0},\dots ,U_{s_{n}}} , para algum n ω {\displaystyle n\in \omega } . Tome s n + 1 S { 0 , 1 , s 2 , , s n } {\displaystyle s_{n+1}\in S\setminus \{0,1,s_{2},\dots ,s_{n}\}} e defina q n + 1 = max { x { 0 , 1 , s 2 , , s n } : x < s n + 1 } {\displaystyle q_{n+1}=\max\{x\in \{0,1,s_{2},\dots ,s_{n}\}:x<s_{n+1}\}} e r n + 1 = min { x { 0 , 1 , s 2 , , s n } : s n + 1 < x } {\displaystyle r_{n+1}=\min\{x\in \{0,1,s_{2},\dots ,s_{n}\}:s_{n+1}<x\}} . Podemos, portanto, escolher um τ {\displaystyle \tau } -aberto U s n + 1 {\displaystyle U_{s_{n+1}}} tal que

U ¯ q n + 1 U s n + 1 U ¯ s n + 1 U r n + 1 . {\displaystyle {\overline {U}}_{q_{n+1}}\subseteq U_{s_{n+1}}\subseteq {\overline {U}}_{s_{n+1}}\subseteq U_{r_{n+1}}.}

Assim procedemos até o primeiro ordinal transfinito ω {\displaystyle \omega } . Com isso, dispondo da família U s n n ω {\displaystyle \langle U_{s_{n}}\rangle _{n\in \omega }} tal como acima, defina f : X [ 0 , 1 ] , {\displaystyle f:X\to [0,1],} dada por

f ( x ) = { inf ( { r S : x U r } ) ,  se  x U s 1 1 ,  se  x U s 1 {\displaystyle f(x)={\begin{cases}\inf(\{r\in S:x\in U_{r}\}),&{\text{ se }}x\in U_{s_{1}}\\1,&{\text{ se }}x\not \in U_{s_{1}}\end{cases}}}

É evidente que f {\displaystyle f} é contínua já que os intervalos do tipo [ 0 , a [ {\displaystyle [0,a[} e ] b , 1 ] {\displaystyle ]b,1]} , com a , b [ 0 , 1 ] {\displaystyle a,b\in [0,1]} formam uma sub-base de [ 0 , 1 ] {\displaystyle [0,1]} com a topologia de subspaço; temos, também, que f ( A ) { 0 } {\displaystyle f(A)\subseteq \{0\}} e f ( B ) { 1 } {\displaystyle f(B)\subseteq \{1\}} , o que conclui a demonstração.

A recíproca do lema de Urysohn também é válida; com efeito, tomemos os τ {\displaystyle \tau } -abertos

U = f 1 ( [ 0 , 1 / 2 [ )  e  V = f 1 ( ] 1 / 2 , 1 ] ) . {\displaystyle U=f^{-1}([0,1/2[){\text{ e }}V=f^{-1}(]1/2,1]).}

Temos que

A U , B V ,  e  U V = . {\displaystyle A\subseteq U,\;B\subseteq V,{\text{ e }}U\cap V=\emptyset .}

Observações

Deve estar claro ao leitor que o passo da atribuição de um racional ao aberto, que satifaça a relação de inclusão, é feito mediante a admissão do Princípio da Escolha Dependente. Temos também que o Lema de Urysohn é não-demonstrável em ZF [1], mas é demonstrável em ZF + DC.

Vale salientar que a função de Urysohn depende dos fechados A {\displaystyle A} e B {\displaystyle B} .

Há quem diga que na matemática, os teoremas mais difíceis de provar são aqueles que envolvem "tirar um coelho da cartola", e a prova deste teorema é considerada por muitos matemáticos como um dos maiores coelhos que alguma vez foram tirados de alguma cartola.

Ver também

  • Teorema da Extensão de Tietze-Urysohn
  • Espaço Normal

Referências

  1. Ver Consequences of the Axiom of Choice Arquivado em 13 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine., forma 78.
  • Ryszard Engelking, General Topology, Heldermann Verlag, Sigma Series in Pure Mathematics, December 1989, ISBN-10: 3885380064.
  • Pavel Urysohn, Über die Mächtigkeit der zusammenhängenden Mengen, Mathematische Annalen, vol. 94 (1925), pp. 262-308.
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