Graça preveniente

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Graça preveniente é uma teologia cristã enraizada em Agostinho de Hipona, porém foi defendida por inúmeros pais da igreja antes do bispo de Hipona, que hoje chamamos de constituintes da Patrística.[1] Ela é abraçada primeiramente pelos cristãos arminianos que são influênciados pela teologia de Jacó Armínio ou John Wesley. Wesley tipicamente referiu-se a ela na linguagem do século XVIII como graça preventiva. Em portugues moderno, a frase graça precedente deve ter um significado similar.

Graça preveniente é divina graça que precede a decisão humana. Ela existe antes de e sem referência a qualquer feito humano. Como os homens foram corrompidos pelo efeito do pecado, a graça preveniente permite as pessoas exercerem o seu livre-arbítrio dado por Deus, podendo então, escolher a salvação oferecida por Deus em Jesus Cristo ou rejeitar a oferta salvífica. Agostinho disse que a graça preveniente não pode ser resistida, arminianos wesleyanos acreditam que ela permite, mas não assegura, a aceitação pessoal do dom da salvação.

Definição

O Livro de Disciplina da Metodista Unida (2004) define graça preveniente como, "… o amor divino que cerca toda humanidade e precede cada um de, e todos, os nossos impulsos conscientes. Essa graça proporciona o nosso primeiro desejo de agradar a Deus, o nosso primeiro vislumbre de entendimento sobre a vontade de Deus, e a nossa 'primeira breve convicção' de ter pecado contra Deus. A graça de Deus também desperta em nós um ardente desejo de libertação do pecado e morte, assim como nos leva ao arrependimento e a fé."[2]

A Igreja do Nazareno fez da graça preveniente um dos seus dezesseis "Artigos de Fé", podendo ser encontrada em seu Manual.[3] O Manual da Igreja do Nazareno declara o seguinte sobre o assunto:

Cremos que a criação da raça humana à imagem de Deus inclui a capacidade de escolher entre o bem e o mal e que, assim, seres humanos foram feitos moralmente responsáveis; que pela queda de Adão se tornaram depravados, de maneira que agora não são capazes de se voltar e se reabilitar pelas suas próprias forças e obras, e, desta forma, renovar a fé e a comunhão com Deus. Mas também cremos que a graça de Deus mediante Jesus Cristo é dada gratuitamente a todos os seres humanos, capacitando todos os que queiram converter-se do pecado para a retidão, a crer em Jesus Cristo para perdão e purificação do pecado, e a praticar boas obras agradáveis e aceitáveis à Sua vista..[3]

Em Armínio

Armínio afirmou a depravação total, mas acreditava que somente a graça preveniente permitiria que os homens escolhessem a salvação:

Concernente a graça e livre-arbítrio, isto é o que eu ensino conforme as Escrituras e o consentimento ortodoxo: o livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar alguma bondade verdadeira e espiritual, sem a graça... Essa graça [prœvenit] vem antes, acompanha, e segue; anima, assiste, opera em nossa vontade, e coopera para que a nossa vontade não torne-se vã.[4]

Na teologia Católica Romana

A questão da graça preveniente foi discutida no capítulo cinquenta da sexta sessão do Concílio de Trento:

797. Declara ainda [o Santo Concílio]: o início da justificação dos adultos deve brotar da graça proveniente de Deus [cân. 3] por Jesus Cristo, a saber, de sua vocação, pela qual são chamados, sem qualquer merecimento da parte deles. Assim, aqueles que estavam afastados de Deus pelos pecados, se dispõem [amparados] pela sua graça, que excita e auxilia (per eius excitantem atque adiuvantem gratiam), a alcançarem a conversão e a própria justificação, consentindo livremente nesta graça e livremente cooperando com ela [cân. 4 e 5]; de forma que, tocando Deus o coração do homem com a iluminação do Espírito Santo, fica o homem por um lado não totalmente inativo, recebendo aquela inspiração, que poderia também rejeitá-la; por outro lado, não pode ele de sua livre vontade, sem a graça de Deus, elevar-se à justificação [cân. 3] diante de Deus. Por isso, quando nas Sagradas Escrituras se diz: Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós (Zac 1, 3), somos lembrados de nossa liberdade; quando, porém, respondemos: Convertei-nos, Senhor a vós, e seremos convertidos (Lam. Jer 5, 21), confessamos que a graça de Deus nos previne.[5]

Na Escritura

As partes usadas das Escrituras que dão suporte a doutrina incluem as passagens abaixo:

  • Jeremias 1:5: "Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei…"
  • Jeremias 31:3: "...Com amor eterno te amei, portanto com benignidade te atraí."
  • Ezequiel 34:11–16: "Porque assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei.…A perdida buscarei, a desgarrada tornarei a trazer, a quebrada ligarei e a enferma fortalecerei…"
  • Lucas 19:10: "Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido."
  • João 6:44: "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer..."
  • Romanos 2:4: "…a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento…"
  • Filipenses 2:12–13: "…desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade."
  • I João 4:19: "Nós amamos ele, porque ele nos amou primeiro."

Em outros lugares

  • "Cada vez que nós começamos a orar a Jesus é o Espírito Santo que nos atrai para o caminho da oração pela sua graça preveniente." #2670 Catecismo da Igreja Católica
  • "Que a graça é precedida por nenhum mérito. O galardão se deve as boas obras, se elas forem cumpridas; mas a graça, a qual não é devida, precede, o que será feito [São Próspero]." Can. 18. #191 Concílio de Orange II, A.D. 529

Referências

  1. Henry Bettenson, The Later Christian Fathers (London: Oxford University Press, 1970), pp. 204-205.
  2. The Book of Discipline of The United Methodist Church - 2004 (Nashville: United Methodist Publishing House, 2004), Section 1: Our Doctrinal Heritage: Distinctive Wesleyan Emphases.
  3. a b «Manual da Igreja do Nazareno 2005-2009» [ligação inativa]
  4. Jacobus Arminius, The Works of James Arminius, D.D., Formerly Professor of Divinity in the University of Leyden (Auburn, NY: Derby and Miller, 1853), 4:472.
  5. «Concílio de Trento - Sessão VI (13-1-1547)» 

Bibliografia

  • Sermão #44: "O Pecado Original" por John Wesley
  • Sermão #85: "On Working out Our Own Salvation" por John Wesley
  • Sermão #105: "Sobre Consciência" por John Wesley
  • Sermão #128: "Graça Livre" por John Wesley
  • Wesley on Salvation: A Study in the Standard Sermons (1989) por Kenneth J. Collins, capítulo 1: "Prevenient Grace and Human Sin" (ISBN 0-310-75421-6)
  • "Total Corruption and the Wesleyan Tradition: Prevenient Grace" por Donal Dorr, Irish Theological Quarterly 31 (1964), 303-321.
  • A Wesleyan-Holiness Theology (1994) por J. Kenneth Grider, capítulo 14: "The First Work of Grace" (ISBN 0-8341-1512-3)
  • John Wesley's Message for Today (1983) por Steve Harper, capítulo 3: "Power to Begin: Prevenient Grace" (ISBN 0-310-45711-4)
  • Practical Divinity: Theology in the Wesleyan Tradition (1982) por Thomas A. Langford, capítulo 2: "Wesley's Theology of Grace", (ISBN 0-687-07382-0)
  • Responsible Grace: John Wesley's Practical Theology (1994) por Randy Maddox, capítulos 3-7 (ISBN 0-687-00334-2)
  • Relational Holiness: Responding to the Call of Love (2005) por Thomas Jay Oord e Michael Lodahl (Beacon Hill Press) (ISBN 0-8341-2182-4)
  • John Wesley's Scriptural Christianity: A Plain Exposition of His Teaching on Christian Doctrine (1994) por Thomas Oden, capítulo 8: "On Grace and Predestination", pp. 243–252 (ISBN 0-310-75321-X)
  • The United Methodist Hymnal (1989) secção sobre "Prevenient Grace" , hinos 337-360 (ISBN 0-687-43134-4)
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