Cancelamento indevido

Tipo de erro aritmético
d d x 1 x = d d 1 x 2 = d d 1 x 2 = 1 x 2 {\displaystyle {\begin{array}{l}\;\;\;{\dfrac {d}{dx}}{\dfrac {1}{x}}\\={\dfrac {d}{d}}{\dfrac {1}{x^{2}}}\\={\dfrac {d\!\!\!\backslash }{d\!\!\!\backslash }}{\dfrac {1}{x^{2}}}\\=-{\dfrac {1}{x^{2}}}\end{array}}}
Cancelamento indevido em cálculo

Um cancelamento indevido ou cancelamento acidental é um tipo particular de erro processual aritmético que fornece uma resposta numericamente correta. É feita uma tentativa de reduzir uma fração cancelando algarismos individuais no numerador e no denominador.[1] Esta não é uma operação legítima e, em geral, não fornece uma resposta correta, mas em alguns casos raros o resultado é numericamente o mesmo como se um procedimento correto tivesse sido aplicado. Os casos triviais de cancelamento de zeros à direita ou onde todos os algarismos são iguais são ignorados.

Exemplos de cancelamentos indevidos que ainda produzem o resultado correto incluem (esses e seus inversos são todos os casos na base 10 com a fração diferente de 1 e com dois algarismos):

  • 19 95 = 1 9 95 = 1 5 {\displaystyle {\frac {19}{95}}={\frac {1\!\!{\not 9}}{\not 95}}={\frac {1}{5}}}
  • 16 64 = 1 6 64 = 1 4 {\displaystyle {\frac {16}{64}}={\frac {1\!\!{\not 6}}{\not 64}}={\frac {1}{4}}}
  • 26 65 = 2 6 65 = 2 5 {\displaystyle {\frac {26}{65}}={\frac {2\!\!{\not 6}}{\not 65}}={\frac {2}{5}}}
  • 49 98 = 4 9 98 = 4 8 = 1 2 . {\displaystyle {\frac {49}{98}}={\frac {4\!\!{\not 9}}{\not 98}}={\frac {4}{8}}={\frac {1}{2}}.} [2]

O artigo por Boas analisa casos em bases diferentes da base 10, por exemplo, 3213 = 21 e seu inverso são as únicas soluções na base quatro com dois algarismos.[2]

O cancelamento indevido pode ocorrer com mais algarismos, como, por exemplo, 165462 = 1542, e até mesmo com diferentes quantidades de algarismos (98392 = 832).

Propriedades elementares

Quando a base é um número primo, não há nenhuma solução com dois algarismos. Isso pode ser provado por absurdo: suponha que haja uma solução. Sem perda de generalidade, podemos dizer que essa solução é

a | | b c | | a = b c ,   b a s e   p , {\displaystyle {\frac {a||b}{c||a}}={\frac {b}{c}},\ {\rm {base}}\ p,}

em que a dupla barra vertical indica concatenação dos algarismos. Deste modo temos

a p + b c p + a = b c ( a b ) c p = b ( a c ) . {\displaystyle {\frac {ap+b}{cp+a}}={\frac {b}{c}}\implies (a-b)cp=b(a-c).}

Mas p > a , b , a c {\displaystyle p>a,b,a-c} , como eles são algarismos na base p {\displaystyle p} ; além disso, p {\displaystyle p} divide b ( a c ) {\displaystyle b(a-c)} , como p {\displaystyle p} é primo e p > b {\displaystyle p>b} , então p | ( a c ) {\displaystyle p|(a-c)} , logo a = c {\displaystyle a=c} . Portanto b ( a c ) = 0 {\displaystyle b(a-c)=0} , o que implica que ( a b ) c p = 0 {\displaystyle (a-b)cp=0} , ou seja, a = b {\displaystyle a=b} , o que é um absurdo pelas definições do problema. (se a = b {\displaystyle a=b} , então o cálculo se torna a | | a c | | a = a c a | | a a | | a = a a = 1 {\displaystyle {\frac {a||a}{c||a}}={\frac {a}{c}}\implies {\frac {a||a}{a||a}}={\frac {a}{a}}=1} , que é um dos casos triviais excluídos.)

Outra propriedade é que o número de soluções na base n {\displaystyle n} é ímpar se e somente se n {\displaystyle n} é o quadrado de um número par. Isso pode ser provado de forma similar à anterior: suponha que tenhamos a solução

a | | b c | | a = b c . {\displaystyle {\frac {a||b}{c||a}}={\frac {b}{c}}.}

Então, fazendo a mesma manipulação, nós temos

a n + b c n + a = b c ( a b ) c n = b ( a c ) {\displaystyle {\frac {an+b}{cn+a}}={\frac {b}{c}}\implies (a-b)cn=b(a-c)}

Suponha que a > b , c {\displaystyle a>b,c} . Note que a , b , c a , a c , a b {\displaystyle a,b,c\to a,a-c,a-b} também é solução para a equação. Isso quase configura uma involução do conjunto de soluções para si mesmo. Mas podemos também substituir para obter ( a b ) ( a b ) n = b ( a ( a b ) ) ( a b ) 2 n = b 2 {\displaystyle (a-b)(a-b)n=b(a-(a-b))\implies (a-b)^{2}n=b^{2}} , que só tem soluções se n {\displaystyle n} é quadrado. Seja n = k 2 {\displaystyle n=k^{2}} . Tirando a raiz quadrado temos ( a b ) k = b a k = ( k + 1 ) b {\displaystyle (a-b)k=b\implies ak=(k+1)b} . Já que o máximo divisor comum de k , ( k + 1 ) {\displaystyle k,(k+1)} é um, sabemos que a = ( k + 1 ) x , b = k x {\displaystyle a=(k+1)x,b=kx} . Sabendo que a , b < k 2 {\displaystyle a,b<k^{2}} , então as soluções são x = 1 , 2 , 3 , , k 1 {\displaystyle x=1,2,3,\ldots ,k-1} , isto é, tem um número impar de soluções quando n = k 2 {\displaystyle n=k^{2}} é um quadrado par. A recíproca da afirmação pode ser provada notando que todas essas soluções satisfazem a requisição inicial.

Ver também

Referências

  1. Weisstein, Eric W. «Anomalous Cancellation» (em inglês). MathWorld 
  2. a b Boas Jr., Ralph Philip (1979). «Ch. 6: Anomalous Cancellation». In: Honsberger, Ross. Mathematical Plums (em inglês). Washington, DC: Mathematical Association of America. pp. 113–129. ISBN 978-0883853009